Esses dias eu estava
atendendo e ouvi a pessoa do meu lado dizer: “Pode ficar tranquilo, já retornei
o sr. Para o plano anterior e será tudo como era antes”. Que declaração
inocente, e por quantas e quantas vezes, não desejamos que fosse tudo como era
antes. Por que não como é agora? Tudo como era antes promessa impossível de ser
cumprida. E porque desejamos tanto o antes, nos apegamos a certas coisas, um
mesmo número de celular, “ porque esse número é meu há mais de vinte anos” .
Tudo é até não ser mais. O que me levou a trabalhar como call center, alterou
toda uma vida que parecia inalterável. Com tempo aprendemos, acreditamos que
precisamos de tanto e vemos o que pode e deve ser deixado pra trás e vamos
atrás de apenas o essencial, porque fazemos o que é necessário pra continuar. Largamos
um número pra trás, enfiamos nossos pertences em caixas e partimos, olhar pra
trás saudoso nos prende. Nos prende e nos atrasa, nos arrasta. É preciso
atender uma ligação ruim, é preciso dar notícias ruins. Os clientes que ligam
sempre querem ouvir que o desejam é possível e vai ser feito imediatamente, as
pessoas costumam se estressar quando se deparam com um obstáculo que demonstra
que o desejo delas não é possível, ainda mais numa época em que as pessoas são
mimadas ao extremo, e diante de insatisfações o mercado oferece o dinheiro de
volta e tudo como era antes. Enquanto
continuarmos pedindo ao destino tudo
como era antes, ele vai continuar a usar a fraseologia: “por falta de diálogo,
estou autorizado a encerrar o contato, tenha uma boa noite”. O que será que
realmente era este antes ao qual nos apegávamos tanto?Precisamos mesmo disso
tudo?
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