sexta-feira, 7 de março de 2014

Gislaine...

Ninguém planeja ser call center.Fato. Mas é o setor que mais tem vagas no mercado, é o primeiro emprego de muita gente e a complementação de renda de muitas famílias, não existe hora, nem dia,nem feriado, todo dia é hora e temos ligações o tempo todo. Ainda mais numa geração que surta ao ficar 10 minutos que seja desconectado. “Moça, meu whatshapp não carrega nada, não consigo ver foto, abrir meu face”. São as frases mais ouvidas, principalmente após ás 18h. Presenciamos várias situações inusitadas, tem como estar em contato com seres humanos e não ser inusitado!?Trabalho nisto há 6 meses, por vontade das circunstâncias da vida, sei o preconceito com o qual o setor é tratado. Mas descobri as peculiaridades de entrar na casa de pessoas diferentes todos os dias. Através da audição estou em vários lugares sem sair do lugar, já fui convidada para experimentar um acarajé, na Bahia. Ir ao Rio Grande do Sul e conhecer as belezas do Rio de Janeiro. Hoje em especial vou contar a história da Gislaine, nunca me esqueci dela. Lembro que a atendi, mas não lembro sua solicitação, o que me recordo são as perguntas: “Moça?! Isso que você faz é trabalhar de call center?” estranhei a indagação, mas respondi que sim, ela perguntou  se teria que fazer algum tipo de curso para trabalhar, eu respondi que os treinamentos eram feitos na própria empresa, ela perguntou quanto eu ganhava. Disse não estava autorizada a passar aquele tipo de informação e perguntei por que? Ela respondeu que tinha uma empresa de call center na cidade dela, e que ela estava desempregada a mais de três meses, disse que ela foi fazer uma entrevista, mas uma amiga dela a colocou muito pra baixo. Eu falei pra ela que tinham os prós e os contras, que muita gente dizia que o trabalho era estressante, mas que eu não sentia desse modo, e que se pudesse dar um conselho à ela, diria para tratar com atenção e educação todas as pessoas, que você recebe isso de volta, disse que era o que tinha recebido e ainda recebo. Prestes a finalizar a ligação ela disse: Moça, você tem o meu número, pode me ligar quando quiser, eu moro no sertão e aqui não tem ninguém pra conversar. Aquele tipo de sinceridade ainda atravessa o meu coração, num mundo que as inovações estão tão rápidas que os relacionamentos humanos duram o tempo  de uma ligação de call center. Gislaine, eu não pude te ligar, são contra as regras da empresa. Espero que você tenha conseguido o emprego e muitas pessoas pra conversar, espero que um dia o sertão seja menos solitário pra você. Não te liguei, mas penso em você todos os dias e te desejo sorte! 

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